Nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919, e morre aos em Lisboa, a 2 de Julho de 2004.
Poeta e ficcionista.

(…) A madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio 
E livres habitamos a substância do tempo

Poeta e ficcionista portuguesa, nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919, e morre aos 84 anos, em Lisboa, no Hospital da Cruz Vermelha, a 2 de Julho de 2004. Filha de Maria Amélia de Mello Breyner e de João Henrique Andresen. De origem dinamarquesa pelo lado paterno foi criada na velha aristocracia portuense, educada nos valores tradicionais da moral cristã, foi dirigente de movimentos universitários católicos quando frequentava Filologia Clássica na Universidade de Lisboa, nos anos 36 a 39 do século XX.

É um dos maiores nomes da literatura portuguesa do século XX. Para o MDM ela foi “Uma das vozes mais fascinantes da poesia portuguesa contemporânea conjuga de forma surpreendente a realidade e o imaginário para exprimir o amor da vida, a relação com o outro, o convívio humano com as coisas”[1].

Passou grande parte da sua infância junto ao mar na Praia da Granja o que terá influenciado muito a sua obra poética.

Foi uma apaixonada pelo mar e pela cultura grega. “É a sede de frescura, a paixão por deuses e semideuses gregos, o fascínio pelo mar, a comunhão ideal com a Natureza que a fazem mover e escrever” [2].

Muito pequena começou a escrever poesia. O seu imaginário riquíssimo foi embalado nas histórias da Nau Catrineta, bem como nas aventuras de Gulliver, em Sindbad o Marinheiro e em Mil e Uma Noites. Escreveu Poesia em 1944, a que se seguiram Dia do Mar, Coral, No Tempo Dividido, Mar Novo, O Cristo Cigano, Livro Sexto, Geografia, Dual, O Nome das Coisas, Navegações e Ilhas.

Casou em 1946 com o jornalista Francisco de Sousa Tavares, foi mãe de cinco filhos e para eles terá começado a escrever, os enormes sucessos como livros para a juventude como a A Menina do Mar, A Fada Oriana, O Cavaleiro da Dinamarca ou A Floresta.

Em 1964 recebeu o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores pelo seu livro Livro sexto. Distinguiu-se também como contista. Foi tradutora e membro da Academia das Ciências de Lisboa. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999. Para além do Prémio Camões, foi também distinguida com o Prémio Rainha Sofia, em 2003.

Desde 2005, no Oceanário de Lisboa, os seus poemas com ligação forte ao mar foram colocados para leitura permanente nas zonas de descanso da exposição, permitindo aos visitantes absorverem a força da sua escrita enquanto estão imersos numa visão de fundo do mar.

Lutou pela liberdade ao lado de tantos outros intelectuais e escritores. Colaborou na revista Cadernos de Poesia, e veio a tornar-se uma das figuras mais representativas de uma atitude política liberal, denunciando o regime salazarista e os seus seguidores.

Persona non grata aos olhos do regime fascista pela veemência dos seus textos acusatórios da fome e da injustiça, muitas das suas entrevistas eram censuradas, os poemas publicados em jornais eram cortados, a casa foi-lhe visitada várias vezes e nem sempre lhe chegavam as cartas dos amigos. Chegou a ser convocada pela PIDE. Muitas das pessoas das suas relações eram presas.

Antes e depois do 25 de Abril foi uma mulher activa com intervenção política no País. Uma mulher fascinante na sua arte poética mas também na sua forma de encarar o mundo. Era uma mulher que não virava as costas aos problemas da sociedade e não vivia na sua torre de marfim. Fez parte da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos. Pertenceu aos corpos gerentes da Associação Portuguesa de Escritores e foi Presidente do Centro Nacional de Cultura, num tempo em que qualquer Associação era vista como ameaça ao regime.  Ficou célebre, como canção de intervenção dos Católicos Progressistas, a sua Cantata da Paz, também conhecida e chamada pelo seu refrão: “Vemos, Ouvimos e Lemos. Não podemos ignorar!”.

A Revolução dos Cravos foi por ela saudada com “vibrante entusiasmo”[3] espelhado nos os seus bem conhecidos versos:

(…) A madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio 
E livres habitamos a substância do tempo

É esse vibrante entusiasmo que a faz sugerir a Vieira da Silva a feitura dos Cartazes de Abril e a Poesia está na Rua, também eles profundamente ligados ao calor e à esperança de Abril.

Foi eleita para a Assembleia Constituinte, em 1975, pelo círculo do Porto, numa lista do Partido Socialista, enquanto o seu marido aderia ao Partido social-democrata.

Na Assembleia Constituinte, a então deputada socialista, trouxe para a ribalta a cultura, a necessidade de criação cultural, da liberdade e da educação. Sobretudo a defesa de uma educação inclusiva.  Os discursos de Sophia sobre a educação especial eram então singulares e antecipatórios. A sua ânsia de justiça impelia os seus pares para “a necessidade de não discriminarmos e garantirmos que todos são verdadeiramente iguais”. Afinal, foi este lema que sempre orientou a sua vida.

Foi feita Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada em 1981 e depois distinguida com o Grande Colar da Ordem de Sant’Iago da Espada em 1998 e o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique em 1987 pelo seu mérito literário e artístico. A Distinção de Honra do MDM atribuída a Sophia de Mello Breyner é-lhe entregue a 25 de Novembro do ano 2000, numa cerimónia na Fundação Martins Sarmento, justamente em homenagem à sua inteligência, ao seu amor pelos outros, à beleza com que canta as mulheres do seu País. A sua memória fica inscrita junto do povo que a amou e com ela convive nas ruas e praças das suas terras. Figura na toponímia de cidades e vilas de norte a sul do País, fazendo parte integrante da nossa história colectiva de mulheres. Escolas e bibliotecas perpetuam o seu nome, a sua história de vida e a sua poesia inspiradora para as crianças e jovens que por ali passam ano após ano.

No Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen, antigo Miradouro da Graça, situado na freguesia de São Vicente em Lisboa, donde se tem uma das mais belas vistas da cidade, o seu busto, réplica do busto criado em 1950, pelo escultor António Duarte, aí está para evocar a poeta olhando o mar como no poema Mulheres à beira-mar “Confundido os seus cabelos com os cabelos/do vento, têm o corpo feliz de ser tão seu e/ tão denso em plena liberdade.”

O corpo de Sophia de Mello Breyner é trasladado para o Panteão Nacional a 2 de Julho de 2014, uma honra aprovada pela Assembleia da República, no 40.ºAniversário da Revolução de Abril. Por unanimidade do Parlamento foi reconhecida como ”a escritora universal, a mulher digna, a cidadã corajosa, a portuguesa insigne e o seu exemplo de fidelidade aos valores da liberdade e da justiça”.

Sophia é pois exemplo maior das Mulheres de Abril que o MDM neste volume reúne.

[1] Texto do Folheto/convite de Homenagem MDM a Sophia de Mello Breyner, 2000

[2] Maria João Martins, Mulheres Portuguesas, Divas, Santas e Demónios, Vol.I, Vega/Multilar, 1994, p. 90 e 91

[3] Maria João Martins, Mulheres Portuguesas, Divas Santas e Demónios, Vol.I, Vega/Multilar, 1994, p. 90 e 91

 

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