Queridas Amigas, queridas companheiras,
Voltamos a encontrarmo-nos aqui no Porto, que a norte acolhe a Manifestação Nacional de Mulheres, e que desde 2021 nesta cidade marca o arranque das comemorações do Dia Internacional da Mulher organizadas e desenvolvidas pelo MDM, em todo o país.
O nosso MDM. Sim, somos o Movimento Democrático de Mulheres – um coletivo de mulheres de todas as gerações que é sinónimo de corajosa e determinada intervenção na conquista e defesa dos direitos das mulheres; um coletivo que honra, desde sempre, o compromisso de estar ao lado das mulheres, dos seu legítimos sonhos e aspirações e que se bate, de forma intransigente, pelo respeito e valorização do estatuto de todas as que vivem, trabalham ou estudam no nosso país.
Um coletivo que não vira costas à luta por muito difícil que ela se afigure. Somos de uma outra natureza: somos as que abraçam a luta porque sabemos que “Juntas formamos fileiras decididas” e “nada calará a nossa voz “como Maria Teresa Horta cantou no seu poema “Mulheres de Abril”.
E aqui estamos, nesta espantosa Manifestação Nacional de Mulheres que nos trouxe da Batalha à Trindade unidas na afirmação de que os direitos das mulheres não podem esperar;
Uma Manifestação Nacional de Mulheres que só é possível porque ela representa a força das “Mulheres de Abril que somos, mãos unidas e certeza já acesa em todas nós” de que juntas fazemos acontecer;
Uma Manifestação Nacional de Mulheres que só é possível porque ela é profundamente ligada à vida de todos os dias e construída de forma dedicada e laboriosa pelos diversos núcleos do MDM em todo o país e das suas dirigentes e ativistas.
Manifestação que só é possível porque representa um espaço único de participação e ativismo em prol dos direitos das mulheres capaz de unir muitas outras que não sendo ainda do MDM encontram e reconhecem aqui o lado seguro da luta pelos seus direitos, pela igualdade, pela justiça social e pela paz.
A todas e todos os que aderiram a este apelo do MDM, o nosso reconhecimento.
Queridas Amigas, queridas companheiras,
Importa sublinhar que esta Manifestação não é um artificio de uma qualquer data, nem o 8 de março é uma data qualquer, muito menos uma data comercial e comerciável.
Prosseguindo os objetivos que estão na sua origem, desde 1911 na primeira manifestação do Dia Internacional da Mulher, esta data representa a luta das mulheres contra a exploração e subalternidade que lhe era imposta na lei e na vida, e continua hoje a representar, doa a quem doer, a luta das mulheres contra a exploração e subalternidade na vida.
Um dia histórico das e para as mulheres, um dia de luta pela igualdade, pela afirmação dos direitos, pela transformação da condição social das mulheres, de solidariedade com a luta das mulheres por direitos, no nosso país e no mundo, pela paz e contra a guerra.
Mil razões de luta que estiveram na razão da ação organizada de sucessivas gerações de mulheres que nos antecederam e nos trouxeram até aqui: destaco a título de exemplo a realização do Encontro Nacional de Mulheres organizado pelo MDM em outubro de 1973, encontro realizado há 50 anos e no qual foram discutidos muitos problemas relativos à condição feminina em Portugal e os caminhos de luta a prosseguir:
Recordo ainda o V Congresso Mundial de Mulheres promovido pela FDIM há 60 anos e que contou com uma delegação portuguesa dirigida por Maria Lamas, e na qual se defendeu e aprovou uma moção de solidariedade cm os presos políticos em Portugal, entre eles Maria Alda Nogueira, também ela mulher do MDM e sua dirigente, resistente antifascista, lutadora dos direitos das mulheres e que celebramos este ano, a 19 de março, o centenário do seu nascimento.
O XI Congresso do MDM, que teve lugar no passado dia 29 de outubro, em Lisboa, ao analisar o sentido da evolução da situação das mulheres em Portugal e no Mundo fê-lo com grande preocupação e apontou o caminho da intervenção do MDM para responder ao inquietante tempo presente, desde logo afirmando “a exigência de que a igualdade na lei, tenha tradução na vida das mulheres”
Os recentes órgãos eleitos do MDM eleitos tomaram nas suas mãos o debate, a organização e a realização de um vasto conjunto de iniciativas, que no plano local e nacional, vão ao encontro dos problemas e das reivindicações das mulheres.
As preparações das comemorações do Dia Internacional da mulher vão ao encontro desses problemas e exigências:
Por isso afirmamos:
Temos mil razões para lutar! Os direitos das mulheres não podem esperar!
As mulheres têm direitos próprios enquanto trabalhadoras, cidadãs e mães. O roubo desses direitos significa uma vida precária em todas as suas dimensões; significa insegurança, injustiça e indignidade, e refletem um Pais onde grassa o retrocesso social.
Por isso, sim! temos mil razões para lutar por melhores condições de vida e de trabalho, pelo fim da precariedade e da desregulação dos horários, pelo aumento geral dos salários e do salário mínimo nacional; contra o brutal aumento do custo de vida que nos empurra para a pobreza e exclusão social; pelo aumento das pensões e o direito a envelhecermos com dignidade; em defesa do serviço nacional de saúde e salvaguarda dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.
Sim, temos mil razões para lutar pelo respeito pelo nosso trabalho, pela valorização das carreiras e profissões, pelo direito a articular a vida profissional e familiar, com tempo para descansar e para a família, com tempo para a participação social e política; mil razões para lutar por creches e educação pública, gratuita e de qualidade; habitação digna e compatível com o salário, combate ao aumento do custo de vida acabando com a criminosa especulação e fixando o preço de bens e serviços essenciais; mil razões para lutar contra a multiplicidade de violências que nos desrespeitam, ferem e matam: pelo fim das violências onde quer que elas tenham lugar.
Temos mil razões para lutar é certo e temos também mil razões para confiar!
Confiar porque em nós e na unidade da nossa luta reside a força para vencer a perigosa opacidade em torno do agravamento das condições de vida e de trabalho das mulheres e o cortejo de desigualdades, discriminações e violências, que nos atingem enquanto trabalhadoras, cidadãs e mães.
Confiar porque em nós e na unidade da nossa luta reside a força para enfrentar velhas e novas formas de exploração e opressão que se agigantam e espreitam por aí, as injustiças sociais, e as tentativas de normalização e banalização do ódio, intolerância e violências.
Confiar porque em nós e na unidade da nossa luta não há espaço para a «cartilha» das fatalidades e inevitabilidades, não há «paciência» para aceitar sacrifícios que enchem os bolsos de uns quantos para a misérias de tantos, e não contam com a nossa «resignação» perante os retrocessos nos nossos direitos.
Esta Manifestação Nacional de Mulheres, ponto muito alto das comemorações do Dia Internacional da Mulher 2023, mostrou aqui no Porto que os direitos das mulheres têm de contar, para que a igualdade na vida seja uma realidade e para que o País possa avançar.
Mostrou que estamos firmes para fazer acontecer o que é fundamental que aconteça: afirmar a unidade e mostrar a força da luta das mulheres!
Mostrou aqui no Porto, mostrará no dia 8 de março em todo o país e no dia 11 de março na Manifestação em Lisboa, que não contam com uma postura «conformada» ou «vencida», que não calamos nem consentimos as malfeitorias que nos fazem diariamente, que atentam com os nossos direitos e a nossa dignidade.
Mostrou e continuaremos a mostrar que estamos prontas para prosseguir a luta organizada de todos os dias, com este e neste movimento que se move com a força e no pulsar da vida.
Maria Teresa Horta tinha razão:
Nos ventres férteis (das mulheres) a vontade erguida de um Portugal que o povo quis.
Porque quando reivindicamos direitos e igualdade, garantimos direitos e igualdade para nós e para todos; quando exigimos justiça social garantimos bem-estar para nós e para todos; quando clamamos por paz tecemos vida e futuro para todos.
Por isso apelamos às mulheres, venham e lutem, venham e rebelem-se, venham com confiança: os direitos das mulheres não podem esperar e até à sua concretização na vida, nós não vamos parar!