Joaquina Odete Martins da Graça nasceu em Alcântara, Lisboa, a 15 de Maio de 1948.
Professora educação física, desportista, autarca.

Condições de vida mais sobrecarregadas das mulheres mas também questões de mentalidade continuam a predestinar as mulheres para umas áreas e os homens para outras, tanto no desporto como na política.

Joaquina Odete Martins da Graça nasceu em Alcântara, Lisboa, a 15 de Maio de 1948. O pai, António Joaquim da Graça era natural de Tomar e a mãe Maria Amélia Martins era natural do Fundão. Ambos eram ferroviários pois trabalhavam nos caminhos-de-ferro; ele, chefe de distrito e ela, guarda de passagem de nível nos mesmos locais onde a família foi vivendo. Com eles, Odete foi saltando de terra em terra, frequentou escolas nas várias localidades, Alhandra, Viana do Castelo e por fim Santa Eulalia – Elvas, onde iniciou a sua prática desportiva na modalidade do Badminton. Praticou desporto por onde passava e foi ganhando uma vasta rede de contactos dos mais conceituados na área do desporto nacional, nomeadamente no desporto feminino De há longa data vive em Sesimbra onde trabalhou e multiplicou a sua actividade desportiva, ora como professora ora no poder local que ainda exerce com o maior brio cívico e político, sem nunca descurar a sensibilização dos meios onde intervém para uma ainda menor participação das mulheres, que terá com certeza a ver com as condições de vida mais sobrecarregadas das mulheres mas também com questões de mentalidade que continuam a predestinar as mulheres para umas áreas e os homens para outras, tanto no desporto como na política.

Odete Graça, o nome pelo qual é mais conhecida, é licenciada em Educação Física e Mestre em Gestão de Desporto, com uma Pós graduação em Direito e Autarquias Locais. Foi Docente de Educação Física no Ensino Básico durante 40 anos e Presidente da Assembleia de Escola Básica 2,3 de Santana, no concelho de Sesimbra onde exerceu outras funções directivas, nomeadamente como Vice-Presidente e Presidente do Conselho Directivo, dos Conselhos Pedagógico e Administrativo. Após o 25 de Abril trabalhou na Direcção Geral dos Desportos, integrando a equipa liderada pelo Prof. Alfredo Melo de Carvalho, integrando projectos de dinamização desportiva como a Alfabetização Desportiva, Movimento de Desporto Infantil – MODI – Núcleo de Formação e outros projectos ligados ao Ensino Básico e Secundário. Ainda na área da Educação exerceu como Inspectora-Orientadora em Educação Física no 1º Ciclo do Ensino Básico e Orientadora Pedagógica

Leccionou cursos técnicos relacionados com a área profissional do Desporto promovidos pela Câmara Municipal de Seixal e Associação de Municípios do Distrito de Évora. Nesta Associação de Municípios – AMDE – também desempenhou o cargo de Assessora na área do Desporto. Teve uma participação pontual no Master en Gestión Y Dirección Deportiva, da Universidad de Extremadura y la Universidade de Évora no quadro de uma “Politica Desportiva Regional”.

A sua área de especialização e/ou investigação nesta fase da sua vida esteve sempre relacionada com Desporto e Autarquias, Planeamento Desportivo Municipal, Gestão de Equipamentos Desportivos, Marketing Desportivo.

Tem artigos publicados em várias revistas e participou ou foi organizadora de Conferências e Seminários, na área do desporto e autarquias, ou na área da educação em várias regiões do País.

Destacamos o Congresso O Município e o Desporto, realizado em Sesimbra, uma organização da Associação de Municípios do Distrito de Setúbal, em 1992, onde assumiu a responsabilidade de Secretária-geral.

Anos mais tarde, também participou como Secretária-Geral do Congresso A Mulher e o Desporto realizado em Lisboa, no Teatro Taborda de 14 a16 de Novembro de 1996, uma organização do MDM que contou com o apoio do Pelouro do Desporto da Câmara Municipal de Lisboa. Deste Congresso, surgiu a ideia da criação da Associação A Mulher e o Desporto que tem um papel muito interessante na problemática do desporto feminino, sempre atenta às discriminações ou subrepresentações que vigoram ainda para as atletas.

Odete Graça foi a primeira Presidente da Associação A Mulher e o Desporto, cargo que exerceu de 1996 a 2003. Foi Vereadora na Câmara Municipal de Sesimbra, responsável politica pelas áreas de Desporto, Educação, Cultura, Turismo e Juventude de 1986 a 1997, tendo sido  Vice-Presidente da Câmara no mandato de 1993 a 1997. Foi também Presidente da Assembleia Municipal de Sesimbra nos mandatos de 2005/2009 e 2009/2013 e no actual mandato de 2013/2017.

Num tempo, muito antes do 25 de Abril, em que a actividade desportiva era muito condicionada à participação de mulheres e era mesmo motivo para dislates irónicos, Odete Graça tem uma notável prestação, sendo vencedora de prémios altamente prestigiantes. Tendo começado a praticar Voleibol e Badminton na Escola Industrial e Comercial de Elvas, corria o ano lectivo de 1965/66, foi a seguir Campeã distrital de Badminton na mesma Escola nos anos de 1965/66 e 1966/67, participando nos campeonatos a nível nacional nos mesmos anos. Praticante de Atletismo no Sport Lisboa e Benfica de 1968 a 1972, é Recordista Nacional de Atletismo (1.500 metros em 1969), Recordista Nacional em Pista Coberta ( 4x2voltas) e Recordista Nacional (3 000 m em 1972), tendo sido a primeira mulher a realizar esta prova. Pela sua competência é convidada para Treinadora Adjunta em Atletismo no Sport Lisboa e Benfica. Depois, pratica Andebol no Clube “Os Belenenses”, sendo Campeã Nacional de Andebol, no ano de 1973 e 1974.

Na revista Povos e Culturas, o seu artigo intitulado A participação das Mulheres nos diferentes aspectos da dinâmica desportiva[1] é provavelmente a melhor descrição dessa aventura tensional do que tem sido a prática do desporto feminino, com todas as suas dimensões politicas, tanto no plano nacional como internacional.

Vejamos a apreciação que faz do desporto feminino e sua evolução nesse texto:

 (…) Em termos genéricos, o desporto assumiu, ainda que timidamente,um desempenho de «algum relevo» no panorama europeu e nas grandes agendas, no plano social e político (mas ) é bom reconhecer que ainda hoje muitos se interrogam sobre a importância da mulher no desporto actual e qual o seu papel no contexto das políticas de desenvolvimento desportivo consolidadas nas diferentes áreas de intervenção na vida e na sociedade actual.

Recorda também que

Na primeira olimpíada ocorrida na era moderna, em 1896, as mulheres não foram autorizadas a participar e que só em 1900, na 2..ª Olimpíada realizada em Paris se verificou pela primeira vez a participação da mulher nos Jogos Olímpicos.

(…) Só em 1986, pela primeira vez, nos Jogos Olímpicos do México, uma mulher – Enriqueta Basílio Sotel – é convidada a transportar o Facho Olímpico, honra que até então era conferida apenas aos homens.

(…) Embora ainda não se tenha atingido o nível da participação desejado, a situação tem evoluído e hoje não temos dúvida que por todo o mundo a mulher pratica cada vez mais desporto e os índices de adesão e a propensão feminina às actividades desportivas crescem sem cessar.

Destaca finalmente alguns instrumentos jurídico-políticos que, no plano europeu, têm ajudado na implementação de medidas facilitadoras da entrada das mulheres em todas as modalidades desportivas e que poderão ser consultados. Pela sua importância, destaca iniciativas do Conselho da Europa, aquando da Conferência de Brighton sobre «As Mulheres e o Desporto» que se realizou no Reino Unido entre 5 e 8 de Maio no ano de 1994 e salienta a importância da 1.ª Conferência Mundial, realizada pelo Comité Olímpico Internacional, em Lausanne, sobre A Mulher e o Desporto, que decorreu em 1996, bem como a Resolução do Parlamento Europeu sobre As Mulheres e o Desporto de 21 de Maio de 2003, considerada como uma Resolução de grande importância na vida política do Parlamento Europeu e da história da Mulher no Desporto nos países da União Europeia, da responsabilidade da Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade de Oportunidades, cuja Relatora foi Geneviève Fraisse, historiadora francesa, deputada da Esquerda Europeia.

Odete Graça, é uma mulher de grande dinamismo que acordou com o 25 de Abril para uma intensa actividade política na vida local com uma agora apaixonante dedicação a uma diversificada actividade com jovens estudantes, no que é designada a Assembleia Municipal de Jovens junto da Assembleia Municipal de Sesimbra, que funciona há mais de doze anos e onde estes assumem de forma pública e participada um papel de intervenção e discussão sobre a vida local.

É também sob a sua responsabilidade que foi editado o livro dedicado às Escolas Conde Ferreira – marco histórico da instrução em Portugal, em colaboração com a Prof ª. Dra. Margarida Louro Felgueiras, com o título 10 anos a construir a Cidadania com os Jovens – um relato do projeto sobre 10 anos da Assembleia Municipal de Jovens e ainda 30 anos do Poder Local.

A dinâmica da Assembleia Municipal de Sesimbra tem conhecido mais dinamismo e preocupação, sobretudo nos últimos anos, tendo por base as preocupações das populações locais e a valorização do Poder Local enquanto referência de grande importância nas conquistas do 25 de Abril.

 

[1] Revista do Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa,  Universidade Católica Portuguesa, Março, 2005. pp. 393 -406.

 

wb_gestao2Odete Graca