Escritora, jornalista e conferencista, Maria Conceição Vassalo e Silva (Maria Lamas) nasce em Torres Novas, em 6 de Outubro de 1893 e morre aos 90 anos no dia 6 de Dezembro de 1983.
A luta pelos direitos das Mulheres e pela sua dignificação e a causa da Paz são as traves mestras do seu ardente trabalho político no qual transparece sempre a força da ternura, da solidariedade e o amor sublime pela Humanidade, bem expressos em toda a sua obra, seja na escrita para crianças, seja no romance ou na grande reportagem sobre as vidas das mulheres portuguesas.
Destaca-se na política integrando as organizações democráticas opositoras ao Estado Novo e à ditadura. Assina as listas de formação do MUD Juvenil, que considera ser o seu primeiro acto político. Integra, no mesmo ano de 1945, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, no qual vem a assumir a Presidência da Direcção, em 1946. No MUD ocupa também cargos de direcção. Tem uma actividade internacional de grande prestígio. Participa no Congresso fundador da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM), em 1946, e representa muitas vezes as mulheres portuguesas nos Congressos da FDIM realizados no estrangeiro, em Congressos Mundiais de Mulheres, e ainda nos Congressos Mundiais da Paz. No ano de 1975, faz a sua última viagem ao estrangeiro para participar como convidada de honra no VII Congresso da FDIM, em Berlim.
Maria Lamas é uma das fundadoras do MDM, a 1ª signatária da escritura pública da criação deste Movimento. Foi Presidente Honorária do Movimento Democrático de Mulheres desde 1975. Esteve presente no III Encontro Nacional em 1977 e no I Congresso do MDM em 1980. Foi Directora da Revista Mulheres, criada em 1978.
No meio de cravos vermelhos e brancos, com toda a gente de pé, no dia 8 de Março de 1982, no S. Luís, com 88 anos, foi a primeira personalidade a receber a distinção de honra do MDM, que Maria Lamas agradeceu comovidamente.
Também em vida, recebeu a medalha Eugénie Cotton, a mais alta distinção da FDIM, em 22 de Março de 1983, na Casa do Alentejo, entregue pela Secretária Geral daquela organização, a finlandesa Mirjam Vire-Tuominen.
Maria Lamas é uma mulher do nosso tempo e deixa-nos um legado de Conhecimento e de Estudo sobre as mulheres numa diversidade de papéis e contextos. Deixa-nos uma reflexão sobre os diferentes feminismos existentes à época, uma proposta de reflexão e acção da maior actualidade. Na acção destemida, inconformada e comprometida, pugnou pela transformação da vida e da sociedade. Maria Lamas foi uma Mulher de acção. Exemplo de participação sem medo, com uma intervenção cívica e política viva e solidária com as mulheres anónimas, trabalhadoras ou intelectuais, sedenta de melhorar a vida das mulheres, essa “metade feminina do género humano”.
Maria Lamas foi uma Mulher de intervenção humanista e política. Com uma intervenção viva e solidária com as mulheres anónimas, com trabalhadoras das fábricas e dos campos, carregadas por um trabalho que justificava a rudeza da pele nas mãos e nos rostos. Com as intelectuais trabalhou e partilhou formas de fazer e saber-fazer em muitos gestos simples. Sempre de forma singular e integradora, procurou melhorar a condição de vida das mulheres, dignificar o seu estatuto. Com muitas partilhou momentos de alegria e dor.
Maria Lamas não falou apenas de si, mas de todas as outras, mulheres invisíveis, a quem abriu as páginas dos jornais e revistas e lhes deu visibilidade. Essa mulher que defendeu a presença da mulher no espaço público e que ousou entrar no espaço privado da mulher, enaltecendo os afectos e o Amor, como motores indispensáveis ao bem-estar e felicidade, essa Mulher merece ser estudada e reconhecida, como intelectual, pensadora, filósofa, empreendedora de grandes ideias.
A leitura e (re)leitura da sua obra é um hino à razão de ser das organizações de mulheres e um hino de esperança e confiança na sua luta pela dignidade, pela solidariedade e a Paz, questões indissociáveis da maior actualidade.