UMA VIDA DE COMBATE, PELOS DIREITOS DA MULHER, PELA LIBERDADE E PELA PAZ
Maria Alda Nogueira deixou um legado de intervenção e luta pelo derrube do fascismo, na conquista da liberdade, da justiça social, da Paz e na causa da libertação e emancipação das mulheres.
Maria Alda Nogueira nasceu na freguesia de Alcântara, em Lisboa, a 19 de Março de 1923 e faleceu em 5 de Março de 1998. Filha de pais operários, a mãe Vitória Barbosa Nogueira era costureira e o pai António Pedro Nogueira, era serralheiro mecânico.
Estudou no Liceu D. Filipa de Lencastre, tendo sido uma aluna brilhante. Foi presidente da Associação Escolar.
Em Alcântara, juntamente com a sua grande amiga Helena Magro e outros jovens, desenvolve uma intensa actividade para angariação de fundos aos presos políticos e famílias, criam uma biblioteca.
Mais tarde na Faculdade de Ciências está na organização das lutas de estudantes contra o aumento das propinas e de oposição à ditadura, colabora no Socorro Vermelho Internacional.
Terminou a licenciatura em Ciências Físico-Químicas em 1945-1946, tendo exercido a docência e investigação nessa área. Foi professora em Olhão, no Externato Comercial da Voz do Operário em Lisboa, em 1947, e na Escola Alfredo da Silva no Barreiro, entre Novembro de 1948 e Abril de 1949.
É autora de livros para crianças, que começa a escrever na cadeia e só depois são editados: A Viagem numa Gota de Água e A Viagem numa Flor. Escreve poesia, faz um poema a José Dias Coelho aquando do seu assassinato pela PIDE.
Colabora nas revistas “Os nossos Filhos”, ”Mãos de Fadas”, “Modas e Bordados”, “Quatro Estações”, no suplemento “a Mulher” do jornal “o diário”, e integra o conselho editorial da revista “Mulheres”.
Alda Nogueira ainda aluna na Faculdade de Ciências, inicia a sua participação na luta das mulheres, ao ingressar na Associação Feminina Portuguesa para a Paz -AFPP, onde chega a ser sócia honorária.
A APFP sempre ligou a defesa da Paz com os direitos das mulheres e das crianças.
Esta Associação apoiava os presos nos campos de concentração nazis, e lutava pela paz e contra o fascismo, por esta altura, intensifica e alarga a sua intervenção integrando muitas trabalhadoras e jovens, através de iniciativas múltiplas: na defesa dos direitos da mulher e da criança, campanhas cívicas, como por exemplo, contra os brinquedos bélicos, cursos de alfabetização, de línguas e de corte e costura, debates, conferências, sessões culturais abertas a operários e estudantes.
É encerrada pelo Governo, em 1952.
Em 1945, conhece Maria Lamas e com ela trabalha no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), encerrado pelo governo fascista, em Junho de 1947.
Alda Nogueira assume como dirigente do CNMP, o trabalho de coordenação e de impulso de actividades de norte a sul do país, com vista à angariação de sócias, à integração de diversas associações locais, que tornassem possível reduzir o analfabetismo e criar escolas para crianças, combater as discriminações da mulher no trabalho, e na sociedade em geral.
O CNMP, no desenvolvimento da sua grande actividade, insere também a importância da mulher nas letras e na ciência, pondo de pé um grande projecto: a realização da “Exposição de Livros Escritos por Mulheres”, em Janeiro de 1947. Alda Nogueira colabora na Comissão Organizadora, na elaboração do Catálogo, e no vasto programa de actividades na Sociedade Nacional de Belas Artes, é oradora numa das palestras sobre “Ciência e a Mulher”.
Alda Nogueira ainda na Faculdade faz uma opção política que a acompanhou toda a vida, entra na Juventude Comunista e pouco tempo depois, em 1942, torna-se militante do Partido Comunista Português – PCP.
Trabalha no Sector de Mobilização e Organização das Mulheres Comunistas, escreve no Boletim “A Voz das Camaradas”.
Devido à sua vigorosa actividade de resistência à ditadura passa à clandestinidade em 1949, só interrompida durante os anos que esteve presa.
Entre as diversas responsabilidades que assumiu acompanhou diversos sectores operários e de serviços em Lisboa, e deu apoio às casas clandestinas do Partido.
É eleita para o Comité Central do PCP, em 1957.
Foi presa pela PIDE em 4 de Outubro de 1959, tendo sido condenada a 8 anos de prisão, sofreu vários castigos e punições pela luta que aí desenvolveu, e por isso, permaneceu nos cárceres nove anos e dois meses. É obrigada a ir para o exílio para não ser novamente presa e só regressa ao país em Maio de 1974.
A seguir ao 25 de Abril de 1974, o seu trabalho é intenso, no país e a nível internacional, como dirigente do Movimento Democrático de Mulheres – MDM, e como dirigente e deputada do PCP na Assembleia da República.
Alda Nogueira divide a sua vida política por vários espaços, não deixando de estar presente na actividade do MDM.
Foi uma dinamizadora, activista e dirigente entusiasta do Movimento Democrático de Mulheres. Foi dirigente do seu Conselho Nacional e fundadora deste Movimento.
Denuncia os problemas, procura alargar a acção com mulheres diversas, unidas na luta pela conquista de direitos no trabalho, na saúde, na educação, na cultura.
Alda Nogueira defendeu veementemente, também como parlamentar, os direitos das mulheres, a igualdade na lei e na vida, os direitos dos pais e das crianças, valorizando o papel das mulheres quer durante a ditadura quer o contributo fundamental para a construção de uma sociedade democrática.
Empenha-se de forma intensa no trabalho de organização do partido, e junto de diversas camadas da população no distrito de Lisboa.
Na Assembleia Constituinte e da República foi uma voz impulsionadora na defesa das mulheres, nomeadamente das trabalhadoras.
Foi deputada do PCP na Assembleia Constituinte e na Assembleia da República de 1976 a 1986, tendo exercido o cargo de Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PCP durante 12 anos. Integrou várias comissões parlamentares, como a dos Princípios fundamentais da Constituição, a de Negócios Estrangeiros e Emigração e a da Condição Feminina, tendo sido sua presidente de 1983 a 1985.
Na Assembleia Constituinte teve um papel relevante na consagração na lei da igualdade entre mulheres e homens.
Ao longo da sua vida foi uma defensora e construtora da unidade de diversos sectores de mulheres, e de intelectuais.
Ficou conhecida pelo seu percurso como Resistente Antifascista, comunista, grande lutadora pela emancipação da mulher.
Uma mulher de vontade inquebrantável, solidária e de grande sensibilidade, rigorosa e intransigente, sempre com esperança, na defesa dos valores de Abril.
Em 29 de Novembro 1987, recebeu a Distinção de Honra do Movimento Democrático de Mulheres, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa.
Em 1988, é agraciada com o grau de grande-oficial da Ordem da Liberdade. O seu busto (obra escultórica), foi inaugurado na Assembleia da República, em Novembro de 2000.
Consagrada como mulher de Abril, Maria Alda passou a figurar na toponímia de várias terras de que são exemplo, Lisboa, Paio Pires (Seixal), Feijó (Almada), Amadora e Agualva-Cacém (Sintra).