Laura Vaz Lopes, oriunda de uma família operária, é filha de Edmundo Evaristo Loureiro Lopes e Natércia Vaz Lopes. Nasceu em Lisboa a 29 de Janeiro de 1923 onde vive.
Em Outubro de 1965, ingressou como docente na Escola Técnica de Emídio Navarro em Almada. Foi demitida no ano seguinte, por motivos políticos, designadamente por ter subscrito a apresentação da candidatura da oposição democrática à Presidência da República do Prof. Ruy Luís Gomes e por ter participado na sua campanha eleitoral.
Em 1967, terminou a sua licenciatura em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e inicia o seu estágio em advocacia.
Foi membro da Associação Feminina Portuguesa para a Paz de 1950 até ao seu encerramento pela PIDE em 1953. Laura Lopes foi uma das fundadoras do Movimento Democrático de Mulheres, tornando-se sua dirigente e membro do seu Conselho Nacional desde o 1.º Congresso em 1980. Só a dificuldade de se movimentar sozinha na cidade, devido à idade, a faz perder as reuniões do Conselho Nacional a que ainda pertence mas sempre que pode envia mensagens e dá uma palavra ao telefone para a sede do movimento. Tem um valioso arquivo documental com todas as suas vivencias e, com mais de 90 anos, continua a escrever buscando em tudo o que escreve a maior exactidão e rigor.
Integrou a delegação do MDM no 3.ºCongresso da Oposição Democrática realizado em Aveiro no ano de 1973 onde proferiu uma comunicação sobre a situação jurídica da mulher em Portugal. Por lhe ser devido um reconhecimento em defesa dos direitos das mulheres, o Conselho Nacional do MDM decidiu atribuir-lhe a Distinção de Honra do MDM em 1997, que lhe foi entregue em 26 de Outubro desse ano na Sociedade Filarmónica Incrível Almadense. Aquando da entrega da Distinção de Honra do MDM, recebeu o reconhecimento pessoal de outros vultos da cultura e da luta das mulheres nomeadamente de Virgínia Moura e Maria Cândida Caeiro, que com ela partilharam a amizade, lutas e sonhos.
Exerceu a profissão de advogada durante 17 anos, de 1967 a 1984, dedicando-se ao Direito Criminal e de Família, designadamente no campo da delinquência juvenil e feminina. Foi advogada de presos políticos.
Viveu em Paris nos anos de 1973 e 1974, onde se juntou à Comissão de Paz que foi o embrião do CPPC. No CPPC, é membro da Presidência desde 1976 até hoje. Na década de 80 do século passado, criou com três mulheres mais, a Comissão de Desarmamento do CPPC. Estava em França quando se deu o 25 de Abril, Veio a Portugal viver o 1º de Maio, regressando definitivamente no início de Novembro desse ano.
Em 1978, requereu a sua reintegração no ensino, reintegração que lhe foi concedida em Março de 1981. Durante alguns anos, poucos, conseguiu conciliar a actividade da advocacia com a carreira docente, mas face às exigências de ambas as actividades e da sua idade, considerou que este esforço era demasiado grande. Decide optar pelo ensino e suspender a sua inscrição na Ordem dos Advogados. Leccionou diversas disciplinas no ensino secundário (Noções de Comércio, Direito comercial, Técnica de Vendas, Economia, Noções de Administração Pública, Relações Públicas e Introdução à Política) em Almada, Marinha Grande, Queluz e Lisboa.
Vivia com paixão a advocacia e espelha-o directamente no seu curriculum vitae,
“Com alguma dor embora, com saudade ainda hoje dessa bela profissão que é a de advogada, sobretudo porque me dediquei sempre ao direito criminal e de família. Lidar com a massa humana é apaixonante! Conhecer os seres humanos, tentar compreender os seus problemas, as suas razões e as causas e os seus modos de actuar, tentar ajudá-los. Muito especialmente quando jovens. Não foi por acaso que advoguei no campo da delinquência juvenil.” [1]
Quando a magistratura era vedada às mulheres, Laura Lopes não calava e desocultando a ignomínia, sublinhava, a esse propósito “A magistratura precisa de mulheres”[2] como se pode ver no destaque da extensa entrevista a Pedro Oliveira. Para além da sua actividade ligada à advocacia, Laura Lopes teve uma participação cívica e política na Assembleia de Freguesia da Penha de França entre 1979 e 1982, em representação da APU. Pertenceu igualmente ao Movimento Português dos Educadores para a Paz, desde a sua constituição em 1981. Foi sócia da Associação Portuguesa dos Juristas Democratas, associação que tem a sua raiz no combate pela democracia e a paz.
A sua actividade estendeu-se também à publicação de vários artigos em jornais e revistas, destacando-se a sua colaboração na Revista Modas e Bordados, Vida Mundial, Revista Mulheres, Diário de Lisboa e Notícias da Amadora. Na “Modas e Bordados” manteve semanalmente, de Março de 1972 a Dezembro de 1974, uma rubrica intitulada A Mulher e a Lei que era um verdadeiro sopro de ar fresco voltado para a realidade das mulheres numa revista dirigida às mulheres donas de casa da classe média, que lhes dava fundamentalmente artigos de culinária, bordados e modas, mexericos e coscuvilhices entre as grandes vedetas de cinema e … fotonovelas[3]. A princípio, os seus artigos não as interessavam e só começaram a ter eco junto das leitoras, quando as convidou a escreverem-lhe pondo-lhe os seus problemas e dúvidas. Enfrentando, simultaneamente, a Censura oficial, sofreu a censura interna das directoras da Revista, Maria Fernanda Pavão, primeiro, e depois Maria Manuela Rama. Mesmo após o 25 de Abril continuaram a cortar, adulterar e minimizar os seus artigos, sempre que envolviam a crítica à legislação retrógrada do fascismo ou qualquer acusação ao regime que deixara o povo, sem instrução, na ignorância e na miséria.
Usando a liberdade que Abril lhe trouxe, Laura Lopes contesta esta permanente atitude censória da direcção do Modas e Bordados e a cumplicidade da Administração de «O Século». Porém, um mês depois, em Dezembro de 1974, Maria Manuela Rama, a directora na altura, comunicou-lhe por escrito que as suas funções de colaboradora da Revista tinham cessado.
Colaborou na Revista Mulheres, desde o seu primeiro número em Maio de 1978 até Setembro de 1980, com uma rubrica sobre a condição jurídica da mulher, intitulada A Mulher e a Lei, rubrica que criara em 1950 na revista Jornal Magazine da Mulher de que era directora a jornalista Lília da Fonseca e que durou poucos anos devido à falta de meios económicos para a manter. Sem dúvida pioneira num tempo difícil de uma abordagem jurídica às questões das mulheres, Laura Lopes entrou no espaço da opinião pública dando respostas a múltiplas questões relevantes levantadas pelas mulheres, sobre o direito de voto, o recenseamento eleitoral, requisitos da lei sobre o casamento ou o regime de bens no casamento, a pensão de alimentos em casos de divórcio, entre muitas outras questões que obrigavam a pensar na realidade das mulheres e que marcavam a sua clara inferioridade na lei. O seu livro A Mulher, a Família e a Lei editado em 1977 pela Seara Nova, reúne alguns desses artigos publicados antes do 25 de Abril quando a Censura exercia uma verdadeira repressão sobre o que publicava. “Cortavam, acrescentavam ou substituíam palavras e frases, modificavam a pontuação; atrasavam a publicação dos artigos, abriam cartas das leitoras a mim dirigidas”[4].
Laura Lopes teve um envolvimento na luta pela Paz desde 1949 merecendo especial referência a sua participação em 1952, como delegada portuguesa ao Congresso dos Povos pela Paz realizado em Viena. Essa actividade internacional pela Paz foi muito intensa a partir de 1973 ao representar o MDM na Conferência de Mulheres para a Segurança e Cooperação na Europa, em Helsínquia. Posteriormente participou em vários congressos, conferências, assembleias e encontros, em diversos países do mundo.
Laura Lopes é uma referência na luta antifascista e pela democracia, pelos direitos das mulheres e pela paz, em Portugal e no Mundo, valores indissociáveis do Portugal de Abril que celebramos.
[1] Arquivo MDM
[2] A propósito do Congresso Nacional doa Advogados, em entrevista a Pedro Oliveira no jornal A Capital, 24 de Novembro de 1972,
[3] Laura Lopes, A mulher, a família e a lei, Seara Nova, 1977, Nota introdutória, p.9-11
[4] Ibidem