Etelvina Lopes de Almeida, nasceu em Serpa no dia 17 de março de 1916, tendo falecido com 88 anos, a 30 de abril de 2004, em Tábua
Jornalista. Deputada à Assembleia Constituinte.

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Hoje, à luz da liberdade do 25 de Abril, a mulher portuguesa tem de tomar consciência do que foi conquistado e do que está em perigo de perder-se…”

Etelvina Lopes de Almeida, nasceu em Serpa no dia 17 de março de 1916, tendo falecido com 88 anos, a 30 de abril de 2004, em Tábua. Grande parte da sua biografia consta do Dicionário no Feminino.[1]

Frequentou o Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho em Lisboa e um colégio interno em Queluz.

Quando já era locutora na Emissora Nacional, aderiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), talvez influenciada por Maria Lamas, pois que Etelvina Lopes de Almeida era também chefe de redacção da revista Modas e Bordados, dirigida por Maria Lamas. Pertenceu à Associação Feminina Portuguesa para a Paz e no âmbito do Conselho, participou nos eventos realizados aquando da Exposição de Livros Escritos por Mulheres de todo o Mundo, organizada em janeiro de 1947 na Sociedade Nacional de Belas Artes, na qual figurou também o seu livro O Tontinho da Esquina. Esta Exposição – que teve um enorme sucesso – motivou o encerramento do CNMP  e o afastamento de Maria Lamas da direcção da Modas e Bordados. Etelvina Lopes de Almeida sucedeu-lhe na direcção da revista. Continuou a trabalhar na Modas e Bordados até ser despedida, por ter assinado, em 1962, um documento da oposição contra a guerra de África. No ano seguinte, mais uma vez devido a actividades oposicionistas, foi afastada da Emissora Nacional, só sendo reintegrada em 26 de Julho de 1974, na sequência da Revolução de Abril. A ditadura era implacável e não perdoava a quem ousasse manifestar-se contra a situação politica qualquer que fosse o ângulo da sua intervenção.   

Como jornalista e escritora, iniciou a sua carreira no jornal infantil O Papagaio, tendo passado também pelas redacções da Rádio Renascença e de O Século. Autora de livros infantis e romances, nomeadamente Histórias que o Mundo Conta, O Tambor da Paz e Maria Verdade, bem como de o ABC da Culinária, agora em 7.ª edição, já considerado um clássico no seu género.

Etelvina Lopes de Almeida, em 1969, fez parte da lista de candidatos a deputados pela Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (C.E.U.D.). Depois de Abril de 1974, foi deputada à Assembleia Constituinte pelo Partido Socialista e também à Assembleia da República, eleita pelo Círculo Eleitoral de Évora, no período de 1976 a 1978. Na linha do seu interesse já revelado na Assembleia da República, foi convidada a presidir em Estrasburgo a uma sessão do Parlamento Europeu para os Idosos, em 1993, durante a qual foi aprovada a Carta Europeia para os Idosos.

Em 1995, foi agraciada pelo então Presidente Mário Soares com a Comenda da Ordem de Mérito que se destina a galardoar actos ou serviços meritórios praticados no exercício de quaisquer funções, públicas ou privadas, que revelem abnegação em favor da colectividade. Dedicou os últimos anos de vida à Fundação Sara Beirão-António Costa Carvalho que fundou com Igrejas Caeiro em Tábua, onde passou a viver permanentemente. A pedido de Ilda Soares de Abreu, redigiu, em 2001, o (Auto) – Retrato para a revista Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher, onde traçou sumariamente o seu percurso desde a infância até 1995. Tem um topónimo em S.João das Lampas, Sintra.

A propósito da história do Dia Internacional da Mulher recorda à Revista Mulheres que a mulher nunca lutou nem luta por privilégios, mas pura e simplesmente por Justiça. Essa justiça que foi esperança de Abril como faz questão de lembrar. “Hoje, à luz da liberdade do 25 de Abril, a mulher portuguesa tem de tomar consciência do que foi conquistado e do que está em perigo de perder-se (…) Exorto todas as mulheres a um alerta de conjunto, a um despertar para a disponibilidade de novas lutas que nos estão a ser exigidas pelas forças que procuram esquecer e fazer esquecer as razões do 25 de Abril”[2].

Georgette Ferreira, que a conheceu no período da resistência ao fascismo e depois, como deputada, testemunha que ela foi sempre uma mulher corajosa. Com experiências muito diversas e outras comuns aos tempos difíceis que atravessaram, tanto a coragem, como a determinação e a persistência na ligação à luta emancipadora das mulheres, são qualidades que unem estas mulheres.

Etelvina Lopes de Almeida merece estar na galeria das mulheres de Abril, porque sem a sua singular e persistente acção ao longo de anos em organizações de mulheres e na defesa dos seus direitos, erguendo as bandeiras da igualdade e da paz, contra um fascismo que só advogava a família e o lar para a vida das mulheres, sem a conjugação desse passado comum, muito do que hoje está na Constituição de Abril a favor da igualdade e direitos das mulheres, não teria lá sido inscrito.

[1] João Esteves,   Dicionário no Feminino (séculos XIX-XX), Lisboa, Livros Horizonte, 2005,  p. 327

[2] Revista Mulheres, março de 1980.

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